quinta-feira, 17 de maio de 2012

FONOLOGIA E FONÉTICA



A face “significado” e a face “significante” da linguagem devem ser objeto de disciplinas diferentes. Eis porque o estudo dos sons, ou melhor, a ciência dos elementos do “significante” sempre formou uma seção particular da linguística, cuidadosamente separada do estudo dos sentidos. Mas o “significante” na língua è algo diferente do que é na fala. Por isso, convén instituir não apenas uma, mas duas “ciências da linguagem”, uma devendo ter por objeto o ato da fala, e a outra a língua. Seu objeto sendo diferente, estas duas ciências dos sons da linguagem devem empregar métodos de trabalho totalmente diferentes: a ciência dos sons da fala, cuidando de fenômenos físicos concretos, deve empregar os métodos da ciências naturais; a ciência dos sons da língua, deve ao contrário empregar métodos puramente linguísticos, psicológicos ou sociológicos. Daremos à ciência dos sons da fala o nome de fonética e a ciência dos sons da língua o nome de fonologia.

Não se diz tudo definindo a fonologia como ciência dos sons da língua, e a fonética como ciência dos sons da fala. A diferença existente entre as duas disciplinas deve ser apresentada mais a fundo e com pormenores.

Sendo o significante do ato da fala, um fenomeno natural isolado, uma cadeia sonora, a ciência que dele se ocupa deve empregar métodos das ciências naturais. Pode-se estudar seja o lado puramente físico, acústico da cadeia sonora, seja o lado fisiológico, articulatório, conforme se deseje examinar sua própria natureza ou seu modo de produção, duas tarefas que em realidade deveriam ser executadas ao mesmo tempo.

A única tarefa da fonética é de responder à pergunta: “ como se pronuncia isto ou aquilo?”. E não se pode responder a essa questão a não ser indicando com precisão, qual é o som de que foi dito (ou em termos físicos que tons parciais, que ondas sonoras, etc., apresenta o complexo fônico em questão) e como, isto é, por que trabalho do aparelho fonador este feito acústico é atingido. O som é um fenômeno físco peceptível pelo sentido da audição, e a fonética, estudando o lado acústico do ato da fala, etra em contato com a psicologia da percepção.

A articulação dos sons da linguagem é uma atividade semi-automática e portanto de direção central, regulada pela vontade; estudando o lado articulatório do ato da fala, a fonética entra em contato com a psicologia dos automatismos. Embora o da fonética resida em realidade no psíquico, os métodos da fonética são exatamente os da ciências naturais: de fato os domínios vizinhos da psicologia experimental empregam tamém os métodos das ciências naturais, pois tratam de atividades psíquicas, não elevadas, mas rudimentares. O que caracteriza particularmente a fonética é que nela está excluida toda a relação entre o complexo tônico estudado e a significação linguística. O treinamento especial, a educação da audição e do tato que um bom “foneticista de ouvido” deve adquirir consiste precisamente em habituar-se a escutar frases e palavras ou a palpar os órgãos durante sua articulação sem prestar atenção a seu sentido e não percebendo senão que seu lado fônico ou articulatório, como faria um estrangeiro que não compreedesse a língua em questão. A fonética pode pois ser definida: a ciência da fase material dos sons da linguagem.

O significante da língua consiste em uma quantidade de elementos cuja essência reside no fato de que eles se distinguem uns dos outros. Cada palavra deve distinguir-se por algo de todas as outras palavras, da mesma língua. Mas a língua só conhece um número limitado de tais meios de diferenciação e como este número é muito menor que o das palavras elas devem consistir em combinações de elementos de deferenciação (“marcas” segundo a terminologia de K. Buhler). Mas, por outro lado todas as combinações possíves de elementos de diferenciação não são admitidas.

Tais combinações são submetidas a regras pariculaes, diferentes para cada língua. A fonologia deve procurar que diferenças fônicas são ligadas, na língua estudada, as diferenças de significação, como os elementos de diferenciação (ou marcas) se comportam entre eles e segundo que regras podem combinar-se uns com os outros para formar palavras ou frases. É claro que essas tarefas não podem ser executadas através de métodos das ciências naturais. A fonologia deve empregar anes os métodos usados para estudar o sistema gramatical de uma língua.

Os sons da linguagem que a fonética deve estudar, possuem um grande número de particularidades acústicas e atriculatórias, que para o foneticista são todas importantes, pois apenas considerando todas essas particularidades é que ele pode rsponder de uma forma precisa à pergunta colocada pela pronúncia do som em foco. Mas, para o estudioso da fonologia, a maioria dessas particularidades são totalmente acessórias, pois elas só funcionam como marcas distintivas da palavras.

O estudioso da fonologia deve encarar o som enquanto ele preenche uma função determinada na língua.

A insistência sobra a função opõe-se de uma maneira cortante ao ponto de vista do feneticista que deve evitar cuidadosamente de considerar o sentido do que é dito (dizendo de outra forma – o sentido do significante). Isso impede de classificar a fonética e a fonologia sob a mesma rubrica, embora as duas ciências se ocupem de coisas semelhantes. Para retomar uma comparação esclarecedora de R Jakobson, a relação existente entre a fonologia e a fonética é a mesma que existe entre a economia nacional e o anuário do comércio ou entre a ciência financeira e a numismática.

Apesar da independencia, em princípio, de tais ciências, um certo contato entre fonologia e fonética é necessário e inevitável. Mas, são apenas os rudimentos, os elementos de descrição fonológicos e fonéticos que devem ser relacionados uns aos outros, e mesmo em tais limities é preciso limitar-se ao que é absolutamente indispensável.

Postagem complementar: http://snack.to/fu8agm9h

(traduzido do Cap. “Phonologie et Phonétique”
Troubetzkoy, N.S. - Prncipes de Phonologie. Trad. Par J. Cantineau.
Paris, Klincksieck, 1057 pat 3 – 12)



terça-feira, 15 de maio de 2012

A CARTA DO CACIQUE SEATTLE, EM 1855



Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade. A carta:

    "O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.
Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.
    Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.
Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.
Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.
    Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.
    Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."

terça-feira, 8 de maio de 2012

HOMENAGEM AO DIA DAS MÃES



HISTÓRIA DA MINHA VIDA

PREFÁCIO


Nascer e crescer no século passado, numa família numerosa exatamente quando o país atravessava por momentos históricos marcantes e dificeis, num mundo particularmente ditador, a década dos anos trinta, onde a família era basicamente uma unidade econômica: todos trabalhavam e o pai era o chefe do empreendimento familiar, foi sem sombra de dúvidas marcado pelo sofrimento.

As crianças eram vistas como se fossem pequenos adultos, trabalhavam como trabalham todos e não recebiam nenhuma atenção especial. E o desejo era que crescecem logo. Naquele tempo não existia a adodescência, e a transição para a fase adulta começava assim que o menino ou a menina se mostravam capazes para carregar pesos. Elas só serviam para ajudar os pais em suas tarefas, e cuidar dos irmãos menores, que aliás chegavam um a cada ano.

Por outro lado, as mulheres trabalhavam de verdade, pois estavam envolvidas na produção da roça e ainda por cima tinham os afazeres da casa.

Pensando muito em tudo que aconteceu em torno desta família e de mutas outras, que viajei ao passando, ouvindo minha querida mãe contar sua trajetória de vida, que resolvi ajudar a realizar o seu sonho, um sonho que servirá de reflexão para seus descentes.


Eliane Santos




APRESENTAÇÃO


“Há muito tempo que tive um pensamento: “ Escrever a história da minha vida”. Mas, como? Até que chegou este momento, e agora me sinto uma pessoa aliviada, pois quero que esta história sirva de exemplo para meus filhos, netos e bisnetos. E, quem sabe para os demais jovens que de uma forma ou de outra fazem parte da nossa família.

Sempre que tenho a oportunidade, converso com meus netos, e conto para eles alguns dos episódios da minha infância e juventude, se é que posso chamar de infância e juventude tudo o que vivi. Nestes últimos dias tenho conversado muito sobre este meu desejo com Eliane, minha filha mais velha. Daí a idéia de ir para o seu Sitio Arco Verde e dar início a História da Minha Vida.


Therezinha Vieira Leal






Agradecimentos


Meus sinceros agradecimentos a minha filha, por tornar realidade o meu sonho. Também a todos os amigos e familiares que apoiarem minha iniciativa e entender melhor o porque de meu comportamento em diversas situações da vida em família.


Therezinha Vieira Leal



INTRODUÇÃO



Minha filha Eliane, sempre querendo que eu fosse para o Sitio, e eu nem sempre me sentindo disposta para estar no convívio da natureza e ela sempre questionando o porquê. Então, eu comecei a contar a causa deste sentimento, que é um sentimento de tristeza, que só eu sei, pois, passei boa parte da minha juventude em lugares isolados, para melhor dizer, no mato e foi lá onde vivi momentos difíceis que carregarei para sempre em minha memória. Posso até dizer que tudo que passei fez de mim a mulher que sou até hoje, corajosa e desafiadora. Apesar de não ter estudado e não ser rica, Deus me deu discernimento, sabedoria e inteligência para resolver problemas e ajudar os que precisam. Tenho alegria de viver muito forte dentro de mim. Amo minha família e peço a Deus proteção para todos. Tenho orgulho de meus filhos por serem o que são. Amo muito meus netos. Ah, como os amo! Meus bisnetos então, nem se fala. Parece que esse amor vai aumentando a força, à proporção que nos multiplicamos. É este amor que me faz viver.




CAPÍTULO I


Eu nasci em Lage, interior da Bahia, próximo á Jaguaquara, na própria fazenda em que residia, em 29 de agosto de 1933, sendo a filha caçula dos dez irmãos, sete mulheres e dois homens, sendo um falecido. Minhas irmãs eram Ailda, Elizabete (Nina), Filadélfio (Velho), Ranulfo (Peco), Laudilira (Lira), Áurea (Mulata), Francisca (França), Clotilde (Tidinha), e eu, Terezinha. Meu pai se chamava-se Germinio Alves Vieira e minha mãe, Adelina Santos Vieira. Eles eram proprietários de uma grande fazenda e viviam das atividades da mesma. Minha mãe já não esperava por mais filhos, pois a penúltima já tinha seis anos e justamente no aniversário de sete anos da minha irmã Clotildes, é que eu nasci. Foi uma gravidez que ninguém tomou conhecimento, pois minha mãe ocultou e isto foi uma surpresa para todos. Ela nem se preparou para me esperar. Quando eu nasci, minha irmã mais velha Ailda, foi quem emprestou algumas roupas que ela preparava para receber seu filho, Toinho, o qual veio ao mundo dois dias após o meu nascimento. Me tornei uma filha muito apegada a minha mãe e a minha irmã, Áurea. Fui amamentada até os sete anos. Me lembro que eu costumava tirar minha mãe do trabalho, através de pequenas mentiras só para tê-la perto de mim, a fim de mamar. Nesta época, além da minha irmã Ailda , Nina também já era casada.

Ainda muito pequena, a nossa vida tomou um rumo de sofrimento pois o meu pai resolveu vender a nossa fazenda para o meu Tio Viriato, irmão da minha mãe. Aproveitando-se de uma palavra mal colocada no documento ele se apoderou da fazenda e não pagou nada para o meu pai, a não ser com a entrega de dois jegues. Depois disso, sei que passamos por muitas dificuldades.

Fomos morar numa casa de taipa, construída pelo meu pai , num lugar chamado Horizonte, onde não morava ninguém, era uma mata virgem e víamos de caça. Não consigo lembrar muito desta época, mas, sei que neste lugar os animais selvagens, onças, etc eram frenqüêntes. Não havia meio de transporte a não ser andar léguas e mais léguas para se chegar num povoado mais próximo. Minha irmã Ailda, mãe de Onofre e Toinho, ficou morando no Horizonte e lá nasceram seus últimos filhos, Miguelzinho, Maria da Gloria e Maria Angélica, as quais mencionarei nos próximos capítulos.

Após esta fase, começo a recordar de episódios tristes da minha vida. Aos quatro anos de idade nos mudamos para Oricó, onde meu pai conseguiu comprar uma fazendinha, de onde tirava o sustento da casa. Minhas irmãs e irmãos trabalhavam plantando e colhendo café, mandioca, milho, batata, iambu, inhame, andu, mangalô, fava, laranja, mamão, etc, para que meu pai levasse para vender em Itaquara.
Me lembro que meu pai bebia muito e chegava em casa muito tarde, montado num cavalo, que era quem o guiava pois ele não tinha condições nem de montar, as pessoas é que o colocavam no animal. Eu ficava aguardando meu pai, pois ele sempre trazia para mim um pão da cidade, e isto ficou marcado para sempre em minha vida.

Recordo ainda, que minha mãe sempre me mandava para a casa da minha irmã Clotildes, que morava no Riacho Seco . Ela me colocava para fazer comida, eu era tão pequena que precisava subir num banquinho para alcançar o fogão. Ela era casada com Toninho e ele era muito exigente, muitas vezes chegando a ser um homem severo. Me lembro que fui montada á cavalo para buscar leite na casa do pai dele, Amancinho, o qual também era casado com outra irmã minha, Nina, que era minha madrinha. O cavalo amuou e por isso ele quis me bater em público, não aceitando a refusa do cavalo. Então, Roque, um rapaz que amançava animais resolveu montar no cavalo. Não deu outra, o cavalo fez pior e Roque terminou quebrando a sua perna .

Depois desta fase, já com sete anos de idade, meu pai resolveu ajudar meu irmão a comprar umas mulas para que ele trabalhasse com transporte fazendo frete. Nesta época o meio de locomoção era através de animais. Para isto, meu pai teve que ir trabalhar como caseiro na fazenda do meu padrinho Ló em Itaquara, onde todos nós tínhamos que trabalhar na colheita de café para sobrevivermos. Me lembro que nesta idade, eu já trabalhava para meu próprio sustento. Foi um período de muita humilhação, pois tomando conta desta fazenda, tínhamos que dar conta de tudo. Imagine que meu padrinho contava os ovos por dia e tínhamos que pagar pelos ovos que faltavam, mesmo se as galinhas não pusessem.

Aos nove anos de idade, minha irmã, Olívia, resolveu levar agente para Jitaúna. Para isto, meu pai se desfez da fazendinha no Oricó e partimos para mais uma etapa da vida, eu, meu pai, minha mãe, minhas irmãs Áurea, França, Lira e Toinho, meu sobrinho. Nestas mudanças, não levamos nada mais do que umas trouxinhas, cada um. Saímos do Oricó andando e com as mulas carregando nossas trouxinhas até Jaguaquara, cuja viagem demorou dois dias de caminhada. Dormiamos nas calçadas das estações de trem, ao relento, comendo coisas que o povo vendia por ali. Me lembro que o leite que tomei foi o da minha mãe.

Chegamos em Jaguaquara e pegamos o trem para Jequié. Chegamos á noite na estação de Jequié e lá fomos para um casebre com um único vão, onde passamos a noite dormindo no chão com uma única coberta. No dia seguinte, fretamos um burro para levar nossas trouxas e seguimos andando para Jitaúna, onde ficamos na casa de Olívia até que meu pai comprasse um terreno nas proximidades. Por fim, conseguiu comprar um terreno a três léguas de Jitaúna e neste lugarejo tivemos que alugar uma casinha até que meu pai construísse uma casa no terreno. Durante a viagem de Jitaúna para o lugarejo levamos um dia de viagem andando, quando cheguei estava com assaduras nas pernas de tanto andar. 

A casa que alugamos era de taipa na terra pura e dormíamos no chão. A casinha era desprovida de tudo, não tinha cama, não tinha móveis, não tinha fogão, não tinha nada, só as nossas trouxinhas. Nesta época, Áurea, era quem mais sabia ler e escrever e com isto dava aulas. Eu aprendi a ler com treze anos de idade e estudei até o terceiro ano, pois tive que ir para roça e além disso meu pai adoeceu não pude mais estudar. Meu pai contraiu uma úlcera cancerosa e sofreu muito até morrer. Neste terreno, meu pai construiu uma casa também de taipa e lá reconstruímos nossa vida, fazendo as mesmas coisas que fazíamos antes, plantar e colher. Alugamos uma barraca na feira de Jitaúna e vendíamos.

A minha adolescência foi sacrificada pelo trabalho, apesar de ser considerada uma moça bonita, não tinha namorado e não tinha coragem de ter, pois tinha vergonha dos rapazes que apareciam pois tinham melhores condições que eu, principalmente porque eu era uma pobre feirante. Vivemos alguns anos neste e lugar e daí alugamos uma casa para fazer um pensão num lugar chamado Apuarema. Então nossa família ficou dividida. Minha mãe, minha irmã Olívia e Toinho ficavam em Apuarema. Toinho trabalhava como sapateiro. Eu, minha irmã Áurea e meu pai, continuamos morando na roça.

Nesta época recebi o recado da minha irmã mais velha, Ailda, que estava grávida e precisava da minha ajuda. Ela estava grávida de Maria Angelica. Minha irmã morreu e deixou os filhos comigo dizendo antes de morrer que vinha buscar as filhas. Por ironia do destino, a primeira morreu porque tomou uma lavagem que perfurou o intestino. A lavagem naquela época era feita com a tripa do porco. A história da segunda também foi muito triste. A menina teve a orelha furada e deu tétano. Eu já tinha 13 anos quando sai desesperada para levar ao hospital de Jequié. Estava na estrada esperando um ônibus, quando um caminhoneiro passou e me deu a carona até o hospital. Esse caminhoneiro no futuro veio a ser o marido de minha comadre Nice, que batizou Eliane. Chegando no hospital a menina faleceu. Voltei para casa de ônibus com o corpo da criança nos braços. Porém, uma senhora, por curiosidade quis ver a menina e saber o que tinha acontecido. Foi ai que se assustou dizendo para todos no ônibus que a menina estava morta. O motorista, então mandou eu saltar do ônibus. Fiquei horas e horas no meio da estrada com a criança morta em meus braços. Parece mentira, mas, era uma criança segurando outra criança morta. E quando de repente, o mesmo caminhoneiro que estava retornando, para Jitaúna me avistou de longe e me deu carona de volta. CONT/...










sábado, 5 de maio de 2012

NATUREZA EM FESTA


Nesta postagem,em edição  especial falarei sobre uma festa onde a natureza faz parte de  um cenário, simplesmente sublime. Após um inverno rigoroso, era o momento de sentir a vida sem cobertores.
De agora em diante o brilho do sol e das noites enluaradas serão palco para os Concertos Musicais, onde a arte se mescla com a beleza da natureza que surge entre as montanhas e lagos.
Sentia a música que se difundia pacata, assim como pacato era o Lago  numa bela noite de luar, quando repentinamente surgiam em fileira, dezenas de barcas à vela; nasciam como nascem  as flores, desabrochando, e se firmavam por alguns instantes. Depois se animavam com a projeção de imagens refletidas diretamente através de raios e luzes que simulavam borboletas dançantes conduzidas pela delicada melodia. Passando de uma para outra os desenhos coloridos; tudo em torno se difundia numa atmosfera ligeira; enquanto as velas mais distantes mostravam o quanto distante é o horizonte, e o quão vasto é o Lago. Os projetores, em posição fixa, trocavam de imagens a cada cinquenta ou sessenta segundos, de acordo com uma sequência combinada à música "New Age" de Kitaro.
Naquele  instante, surgia a imagem do nascimento de Venus (Venere) na versão dos anos 800 de Bouguereau. Além de outras figuras femininas de Rossetti, fotografias de abismos marinhos, etc., seguindo um ciclo que reconduzia ao mundo da água, que foi o tema da edição do festival.
É fantástico percorrer o Lago Maggiore, o qual é considerado um patrimonio da humanidade., sendo o segundo maior lago da Itália, localizado entre a Suíça e a Itália e favorecido por um clima ameno e com as margens cobertas de vegetação exuberante. Oleandros, Azaléias, Rosas, Camélias, flores de todas a cores e perfumes ornam as moradias, jardins e parques. O Lago Maggiore desde os anos 800 que vem sendo o destino turístico da elite de renome internacional.

Na paisagem, que parece mais uma pintura, se encontram cidadezinhas costeiras muito pitorescas, que ajudam a criar um jogo de luzes, cor e atmosfera muito romântica e inspiradora para casais de apaixonados, artista, escritores, pintores, pensadores...
As Ilhas do Lago Maggiore, também conhecidas por Ilhas Borromeo, sobrenome de uma nobre proprietária de várias delas.
Cada uma destas ilhas tem suas características particulares.
 A "Isola Madre" , que é a maior delas,  onde podemos encontrar o Museu de Bonecas, carrinhos, mobilias, objetos e demais brinquedos que são réplicas em miniatura da realidade dos anos 1650 que perduram até os dias de hoje. Os brinquedos expostos foram pertencentes às crianças desta família Borromeo. No jardim da ilha, podemos admirar plantas e pássaros de várias partes do mundo que vivem na harmonia pacífica da ilha.
A "Isola Bella", praticamente a metade da ilha é composta de um grandíssimo castelo construído em 1632, pelo nobre casal Carlo III Borromeo e sua esposa Isabella. Esta ilha foi dedicada à sua amada esposa. Na outra metade da ilha foi construído um maravilhoso jardim projetado em três níveis, onde podemos encontrar plantas originárias do mundo inteiro, inclusive o coqueiro a bananeira do Brasil. Percorrendo os jardins veremos pavões brancos e azuis com muita elegância caminhando livremente exibindo a exuberante plumagem.
"A  Isola Pescatori" é a única ilha que é habitada, onde vivem cerca de 50 famílias de pescadores. Nesta ilha são realizados vários casamentos, por ser um lugar também romantico e diferente  na sua singularidade. È famosa pelas festas que acontecem no mês de agosto, chamada aqui na Itália de "Ferragosto", noite em que todos os pescadores fazem uma procissão em seus barcos contornando toda a ilha com a "madoninna" da igreja que é levada no primeiro barco junto com o padre, que vai abençoando todas as casas e seus habitantes. A emoção sempre vem quando a noite temina com a queima de fogos de artíficios vistos em todo o lago. Neste periodo, em todas as cidades que circundam o Lago Maggiore, acontece o Festival de Música com várias atrações, além de feiras de artesanato,  mercado com comida típica, bailes folcloricos e atuais, que termina em Arona com o Festival Internacional de Fogos de Artificios. Este é um verdadeiro tour de emoções.

terça-feira, 1 de maio de 2012

ABORDAGEM SOBRE ASPECTOS DA FUNCIONALIDADE LINGUÍSTICA



Definição de Linguística e objetivos do estudo no curso para formação de professores de Línguas.

Uma das disciplinas importantíssima para o nosso estudo é a Linguística, a qual, como todos sabem é a ciência voltada especificamente para o estudo da linguagem humana. Ela pode oferecer ao professor de línguas um conhecimento acurado sobre o sistema de funcionamento desse meio de comunicação expecífico da raça humana.

Sabemos perfeitamente o que significa o termo LINGUAGEM, quando o empregamos, mas, por outro lado, veremos que há diferenças marcantes entre esse conhecimento prático e não refletido e a compreensão mais sistemática, mais profunda e ciêntífica do nosso sistema de comunicação. Portanto, esta visão ciêntifica traz grandes benefícios para o desenvolvimento do estudo, pois para formar um professor de línguas é fundamental o treinamento linguístico, afinal:

  • poderá influênciar na adoção da política linguística a ser seguida pelos órgãos municipais, estaduais e federais visto conhecer melhor o valor das variações dialetais, opinando, portanto, com acerto;
  • sabendo que as línguas mudam, são dinâmicas – adaptáveis e variáveis – poderá basear seu ensino nessa realidade e saber, seguramente, que atitude tomar face a problemas linguísticos;
  • poderá tomar atitude adequada perante o “certo” e o “errado da gramática tradicional;
  • compreenderá , com maior profundidade, as descrições fonológicas, morfológicas, sintáticas e semânticas, podendo, assim, ensinar aos alunos cada sistema da língua individualmente, e, ao final, fornecer-lhes uma síntese da estrutura total;
  • saberá enfatizar a língua falada que, com seus fonemas de altura, acentuação, tom, juntura, é mais rica que a escrita e tem precedência sobre essa, e demonstrar que ambas são importantes no programa de formação dos alunos (isto é fundamental);
  • respaldado no estudo semântico, poderá contribuir para o estudo da lexicografia, orientando ou confeccionando novos dicionários;
  • poderá contribuir para a crítica literária, fazendo e orientando os alunos para um estudo objetivo do texto, deixando de lado o subjetivismo demasiado (isto é importantíssimo);
  • possibilitará o ensino dos sons articulados e a explicação adequada das peculiaridades fonológicas da língua estrangeira, tendo condições de elaborar exercícios didáticos específicos para cada problema.


Indicação Bibliográfica:

  1. MACEDO DE BARREIRO, Joselice - Apresentação, material didático.
  2. GAIARSA, Maria Amélia Chagas – A Linguística e o Professor de Línguas, material didático extraído do livro Curso de Línguística 1, de Evaldo Heckler e Sabald Back.


Um Pouco Sobre Minha História de

Um Pouco Sobre Minha História de

Vida

Nascida de família simples do interior da Bahia, em 03 de outubro de 1955, dia da eleição para Presidente da Republica, Juscelino Kubitschek, justamente, no momento em que minha mãe estava à caminho do posto eleitoral, sentiu a dor do porto e por isso não pode votar. Sendo a primogenita dos seis filhos da minha mãe e a quinta do meu pai, sempre sonhava acordada desde a infância. E, a partir desses sonhos juvenis é que as coisas foram acontecendo. Aos 12 anos de idade, dormia escutando um radinho de pilhas buscando a frequência de Londres para aprender inglês dormindo, pois a curiosidade de como vivam as pessoas em outros países era imensa. Aprendi inglês com o método "natural approach". Não frequentei cursinhos de inglês e por digitar muito, melhor dizer "datilografar" a gramática inglesa, aumentei a facilidade na escrita. Morei na Califórnia por 5 anos, e assim ampliei meus conhecimentos da língua inglesa e posteriormente é que cursei Letras Vernáculas, óbvio que com Inglês. A minha primeira viagem foi à Africa, precisamente em Lagos-Nigéria, onde permaneci longos meses, longos, porque foi numa época de guerrilhas (estado de sítio) destruição de correios, morte de Charles Chaplin, a qual que ocorreu justamente numa data inesquecível, no dia de Natal, quando me encontrava, numa casa de mulçumanos. Além de todos estes acontecimentos, não poderia deixar de mencionar também o show de Bob Marley, quando apresentava seu novo disco (vinil) "Kaya" para seus "irmãos de cor". Havia precariedade de linhas telefônicas, e o meu contato com a familia, praticamente não existia, sendo motivo de muita preocupação para meus pais. Além destes acontecimentos, o "FESTAC 77" (Festival da cultura negra internacional) tomou conta do continente africano, onde todas as nações negras do mundo se reuniram como uma espécie de "proclame" pela conquista de suas independencias.
Realmente não poderia de deixar de mencionar sobre essa experiência que muitos, até mesmo da minha familia, não conhecem detalhes. Para mim, foi de suma importância viver esta experiência, pois, como baiana, sinto o coração bater a força destes batuques, cuja história vem muito mais além dos preconceitos e disputas religiosas atuais. Personagens da música popular brasileira estiveram presentes como: Gilberto Gil, Caetano Veloso, dentre outros. Das apresentações, uma que se destacou para mim foi a de Bomba-Meu-Boi, por me fazer recordar a infância de um interior da Bahia, Jitaúna, onde o Bomba-Meu-Boi fazia parte da tradição folclórica. Sem sombra de dúvidas é um acervo histórico de muita importância para a nossa cultura. Casei-me pela primeira vez aos 18 anos, tenho duas filhas, dois netos e atualmente casada com italiano e vivemos entre a Itália e o Brasil. Trabalhei em diversas companhias e por último, em 1990, ingressei numa empresa multinacional na área de Recursos Humanos, permanecendo até minha aposentadoria em 2007. Por não exercer a minha profissão, propriamente dita " Professora", senti a necessidade de exercitar e compartilhar meus conhecimentos neste blog. Espero que agregue valor! Obrigada pela atenção!