A face
“significado” e a face “significante”
da linguagem devem ser objeto de disciplinas diferentes. Eis porque o
estudo dos sons, ou melhor, a ciência dos elementos do
“significante” sempre formou uma seção particular da
linguística, cuidadosamente separada do estudo dos sentidos. Mas o
“significante” na língua è algo diferente do que é na
fala. Por isso, convén instituir não apenas uma, mas duas “ciências
da linguagem”, uma devendo ter por objeto o ato da fala,
e a outra a língua. Seu objeto sendo diferente, estas duas
ciências dos sons da linguagem devem empregar métodos de trabalho
totalmente diferentes: a ciência dos sons da fala, cuidando de
fenômenos físicos concretos, deve empregar os métodos da ciências
naturais; a ciência dos sons da língua, deve ao contrário empregar
métodos puramente linguísticos, psicológicos ou sociológicos.
Daremos à ciência dos sons da fala o nome de fonética e a
ciência dos sons da língua o nome de fonologia.
Não
se diz tudo definindo a fonologia como ciência dos sons da língua,
e a fonética como ciência dos sons da fala. A diferença existente
entre as duas disciplinas deve ser apresentada mais a fundo e com
pormenores.
Sendo
o significante do ato da fala, um fenomeno natural isolado, uma
cadeia sonora, a ciência que dele se ocupa deve empregar métodos
das ciências naturais. Pode-se estudar seja o lado puramente físico,
acústico da cadeia sonora, seja o lado fisiológico, articulatório,
conforme se deseje examinar sua própria natureza ou seu modo de
produção, duas tarefas que em realidade deveriam ser executadas ao
mesmo tempo.
A
única tarefa da fonética é de responder à pergunta: “ como se
pronuncia isto ou aquilo?”. E não se pode responder a essa questão
a não ser indicando com precisão, qual é o som de que foi dito (ou
em termos físicos que tons parciais, que ondas sonoras, etc.,
apresenta o complexo fônico em questão) e como, isto é, por que
trabalho do aparelho fonador este feito acústico é atingido. O som
é um fenômeno físco peceptível pelo sentido da audição, e a
fonética, estudando o lado acústico do ato da fala, etra em contato
com a psicologia da percepção.
A
articulação dos sons da linguagem é uma atividade semi-automática
e portanto de direção central, regulada pela vontade; estudando o
lado articulatório do ato da fala, a fonética entra em contato com
a psicologia dos automatismos. Embora o da fonética resida em
realidade no psíquico, os métodos da fonética são exatamente os
da ciências naturais: de fato os domínios vizinhos da psicologia
experimental empregam tamém os métodos das ciências naturais, pois
tratam de atividades psíquicas, não elevadas, mas rudimentares. O
que caracteriza particularmente a fonética é que nela está
excluida toda a relação entre o complexo tônico estudado e a
significação linguística. O treinamento especial, a educação da
audição e do tato que um bom “foneticista de ouvido” deve
adquirir consiste precisamente em habituar-se a escutar frases e
palavras ou a palpar os órgãos durante sua articulação sem
prestar atenção a seu sentido e não percebendo senão que seu lado
fônico ou articulatório, como faria um estrangeiro que não
compreedesse a língua em questão. A fonética pode pois ser
definida: a ciência da fase material dos sons da linguagem.
O
significante da língua consiste em uma quantidade de elementos cuja
essência reside no fato de que eles se distinguem uns dos outros.
Cada palavra deve distinguir-se por algo de todas as outras palavras,
da mesma língua. Mas a língua só conhece um número limitado de
tais meios de diferenciação e como este número é muito menor que
o das palavras elas devem consistir em combinações de elementos de
deferenciação (“marcas” segundo a terminologia de K. Buhler).
Mas, por outro lado todas as combinações possíves de elementos de
diferenciação não são admitidas.
Tais
combinações são submetidas a regras pariculaes, diferentes para
cada língua. A fonologia deve procurar que diferenças fônicas são
ligadas, na língua estudada, as diferenças de significação, como
os elementos de diferenciação (ou marcas) se comportam entre eles e
segundo que regras podem combinar-se uns com os outros para formar
palavras ou frases. É claro que essas tarefas não podem ser
executadas através de métodos das ciências naturais. A fonologia
deve empregar anes os métodos usados para estudar o sistema
gramatical de uma língua.
Os
sons da linguagem que a fonética deve estudar, possuem um grande
número de particularidades acústicas e atriculatórias, que para o
foneticista são todas importantes, pois apenas considerando todas
essas particularidades é que ele pode rsponder de uma forma precisa
à pergunta colocada pela pronúncia do som em foco. Mas, para o
estudioso da fonologia, a maioria dessas particularidades são
totalmente acessórias, pois elas só funcionam como marcas
distintivas da palavras.
O
estudioso da fonologia deve encarar o som enquanto ele preenche uma
função determinada na língua.
A
insistência sobra a função opõe-se de uma maneira cortante ao
ponto de vista do feneticista que deve evitar cuidadosamente de
considerar o sentido do que é dito (dizendo de outra forma – o
sentido do significante). Isso impede de classificar a fonética e a
fonologia sob a mesma rubrica, embora as duas ciências se ocupem de
coisas semelhantes. Para retomar uma comparação esclarecedora de R
Jakobson, a relação existente entre a fonologia e a fonética é a
mesma que existe entre a economia nacional e o anuário do comércio
ou entre a ciência financeira e a numismática.
Apesar
da independencia, em princípio, de tais ciências, um certo contato
entre fonologia e fonética é necessário e inevitável. Mas, são
apenas os rudimentos, os elementos de descrição fonológicos e
fonéticos que devem ser relacionados uns aos outros, e mesmo em tais
limities é preciso limitar-se ao que é absolutamente indispensável.
Troubetzkoy,
N.S. - Prncipes de Phonologie. Trad. Par J. Cantineau.
Paris,
Klincksieck, 1057 pat 3 – 12)