terça-feira, 8 de maio de 2012

HOMENAGEM AO DIA DAS MÃES



HISTÓRIA DA MINHA VIDA

PREFÁCIO


Nascer e crescer no século passado, numa família numerosa exatamente quando o país atravessava por momentos históricos marcantes e dificeis, num mundo particularmente ditador, a década dos anos trinta, onde a família era basicamente uma unidade econômica: todos trabalhavam e o pai era o chefe do empreendimento familiar, foi sem sombra de dúvidas marcado pelo sofrimento.

As crianças eram vistas como se fossem pequenos adultos, trabalhavam como trabalham todos e não recebiam nenhuma atenção especial. E o desejo era que crescecem logo. Naquele tempo não existia a adodescência, e a transição para a fase adulta começava assim que o menino ou a menina se mostravam capazes para carregar pesos. Elas só serviam para ajudar os pais em suas tarefas, e cuidar dos irmãos menores, que aliás chegavam um a cada ano.

Por outro lado, as mulheres trabalhavam de verdade, pois estavam envolvidas na produção da roça e ainda por cima tinham os afazeres da casa.

Pensando muito em tudo que aconteceu em torno desta família e de mutas outras, que viajei ao passando, ouvindo minha querida mãe contar sua trajetória de vida, que resolvi ajudar a realizar o seu sonho, um sonho que servirá de reflexão para seus descentes.


Eliane Santos




APRESENTAÇÃO


“Há muito tempo que tive um pensamento: “ Escrever a história da minha vida”. Mas, como? Até que chegou este momento, e agora me sinto uma pessoa aliviada, pois quero que esta história sirva de exemplo para meus filhos, netos e bisnetos. E, quem sabe para os demais jovens que de uma forma ou de outra fazem parte da nossa família.

Sempre que tenho a oportunidade, converso com meus netos, e conto para eles alguns dos episódios da minha infância e juventude, se é que posso chamar de infância e juventude tudo o que vivi. Nestes últimos dias tenho conversado muito sobre este meu desejo com Eliane, minha filha mais velha. Daí a idéia de ir para o seu Sitio Arco Verde e dar início a História da Minha Vida.


Therezinha Vieira Leal






Agradecimentos


Meus sinceros agradecimentos a minha filha, por tornar realidade o meu sonho. Também a todos os amigos e familiares que apoiarem minha iniciativa e entender melhor o porque de meu comportamento em diversas situações da vida em família.


Therezinha Vieira Leal



INTRODUÇÃO



Minha filha Eliane, sempre querendo que eu fosse para o Sitio, e eu nem sempre me sentindo disposta para estar no convívio da natureza e ela sempre questionando o porquê. Então, eu comecei a contar a causa deste sentimento, que é um sentimento de tristeza, que só eu sei, pois, passei boa parte da minha juventude em lugares isolados, para melhor dizer, no mato e foi lá onde vivi momentos difíceis que carregarei para sempre em minha memória. Posso até dizer que tudo que passei fez de mim a mulher que sou até hoje, corajosa e desafiadora. Apesar de não ter estudado e não ser rica, Deus me deu discernimento, sabedoria e inteligência para resolver problemas e ajudar os que precisam. Tenho alegria de viver muito forte dentro de mim. Amo minha família e peço a Deus proteção para todos. Tenho orgulho de meus filhos por serem o que são. Amo muito meus netos. Ah, como os amo! Meus bisnetos então, nem se fala. Parece que esse amor vai aumentando a força, à proporção que nos multiplicamos. É este amor que me faz viver.




CAPÍTULO I


Eu nasci em Lage, interior da Bahia, próximo á Jaguaquara, na própria fazenda em que residia, em 29 de agosto de 1933, sendo a filha caçula dos dez irmãos, sete mulheres e dois homens, sendo um falecido. Minhas irmãs eram Ailda, Elizabete (Nina), Filadélfio (Velho), Ranulfo (Peco), Laudilira (Lira), Áurea (Mulata), Francisca (França), Clotilde (Tidinha), e eu, Terezinha. Meu pai se chamava-se Germinio Alves Vieira e minha mãe, Adelina Santos Vieira. Eles eram proprietários de uma grande fazenda e viviam das atividades da mesma. Minha mãe já não esperava por mais filhos, pois a penúltima já tinha seis anos e justamente no aniversário de sete anos da minha irmã Clotildes, é que eu nasci. Foi uma gravidez que ninguém tomou conhecimento, pois minha mãe ocultou e isto foi uma surpresa para todos. Ela nem se preparou para me esperar. Quando eu nasci, minha irmã mais velha Ailda, foi quem emprestou algumas roupas que ela preparava para receber seu filho, Toinho, o qual veio ao mundo dois dias após o meu nascimento. Me tornei uma filha muito apegada a minha mãe e a minha irmã, Áurea. Fui amamentada até os sete anos. Me lembro que eu costumava tirar minha mãe do trabalho, através de pequenas mentiras só para tê-la perto de mim, a fim de mamar. Nesta época, além da minha irmã Ailda , Nina também já era casada.

Ainda muito pequena, a nossa vida tomou um rumo de sofrimento pois o meu pai resolveu vender a nossa fazenda para o meu Tio Viriato, irmão da minha mãe. Aproveitando-se de uma palavra mal colocada no documento ele se apoderou da fazenda e não pagou nada para o meu pai, a não ser com a entrega de dois jegues. Depois disso, sei que passamos por muitas dificuldades.

Fomos morar numa casa de taipa, construída pelo meu pai , num lugar chamado Horizonte, onde não morava ninguém, era uma mata virgem e víamos de caça. Não consigo lembrar muito desta época, mas, sei que neste lugar os animais selvagens, onças, etc eram frenqüêntes. Não havia meio de transporte a não ser andar léguas e mais léguas para se chegar num povoado mais próximo. Minha irmã Ailda, mãe de Onofre e Toinho, ficou morando no Horizonte e lá nasceram seus últimos filhos, Miguelzinho, Maria da Gloria e Maria Angélica, as quais mencionarei nos próximos capítulos.

Após esta fase, começo a recordar de episódios tristes da minha vida. Aos quatro anos de idade nos mudamos para Oricó, onde meu pai conseguiu comprar uma fazendinha, de onde tirava o sustento da casa. Minhas irmãs e irmãos trabalhavam plantando e colhendo café, mandioca, milho, batata, iambu, inhame, andu, mangalô, fava, laranja, mamão, etc, para que meu pai levasse para vender em Itaquara.
Me lembro que meu pai bebia muito e chegava em casa muito tarde, montado num cavalo, que era quem o guiava pois ele não tinha condições nem de montar, as pessoas é que o colocavam no animal. Eu ficava aguardando meu pai, pois ele sempre trazia para mim um pão da cidade, e isto ficou marcado para sempre em minha vida.

Recordo ainda, que minha mãe sempre me mandava para a casa da minha irmã Clotildes, que morava no Riacho Seco . Ela me colocava para fazer comida, eu era tão pequena que precisava subir num banquinho para alcançar o fogão. Ela era casada com Toninho e ele era muito exigente, muitas vezes chegando a ser um homem severo. Me lembro que fui montada á cavalo para buscar leite na casa do pai dele, Amancinho, o qual também era casado com outra irmã minha, Nina, que era minha madrinha. O cavalo amuou e por isso ele quis me bater em público, não aceitando a refusa do cavalo. Então, Roque, um rapaz que amançava animais resolveu montar no cavalo. Não deu outra, o cavalo fez pior e Roque terminou quebrando a sua perna .

Depois desta fase, já com sete anos de idade, meu pai resolveu ajudar meu irmão a comprar umas mulas para que ele trabalhasse com transporte fazendo frete. Nesta época o meio de locomoção era através de animais. Para isto, meu pai teve que ir trabalhar como caseiro na fazenda do meu padrinho Ló em Itaquara, onde todos nós tínhamos que trabalhar na colheita de café para sobrevivermos. Me lembro que nesta idade, eu já trabalhava para meu próprio sustento. Foi um período de muita humilhação, pois tomando conta desta fazenda, tínhamos que dar conta de tudo. Imagine que meu padrinho contava os ovos por dia e tínhamos que pagar pelos ovos que faltavam, mesmo se as galinhas não pusessem.

Aos nove anos de idade, minha irmã, Olívia, resolveu levar agente para Jitaúna. Para isto, meu pai se desfez da fazendinha no Oricó e partimos para mais uma etapa da vida, eu, meu pai, minha mãe, minhas irmãs Áurea, França, Lira e Toinho, meu sobrinho. Nestas mudanças, não levamos nada mais do que umas trouxinhas, cada um. Saímos do Oricó andando e com as mulas carregando nossas trouxinhas até Jaguaquara, cuja viagem demorou dois dias de caminhada. Dormiamos nas calçadas das estações de trem, ao relento, comendo coisas que o povo vendia por ali. Me lembro que o leite que tomei foi o da minha mãe.

Chegamos em Jaguaquara e pegamos o trem para Jequié. Chegamos á noite na estação de Jequié e lá fomos para um casebre com um único vão, onde passamos a noite dormindo no chão com uma única coberta. No dia seguinte, fretamos um burro para levar nossas trouxas e seguimos andando para Jitaúna, onde ficamos na casa de Olívia até que meu pai comprasse um terreno nas proximidades. Por fim, conseguiu comprar um terreno a três léguas de Jitaúna e neste lugarejo tivemos que alugar uma casinha até que meu pai construísse uma casa no terreno. Durante a viagem de Jitaúna para o lugarejo levamos um dia de viagem andando, quando cheguei estava com assaduras nas pernas de tanto andar. 

A casa que alugamos era de taipa na terra pura e dormíamos no chão. A casinha era desprovida de tudo, não tinha cama, não tinha móveis, não tinha fogão, não tinha nada, só as nossas trouxinhas. Nesta época, Áurea, era quem mais sabia ler e escrever e com isto dava aulas. Eu aprendi a ler com treze anos de idade e estudei até o terceiro ano, pois tive que ir para roça e além disso meu pai adoeceu não pude mais estudar. Meu pai contraiu uma úlcera cancerosa e sofreu muito até morrer. Neste terreno, meu pai construiu uma casa também de taipa e lá reconstruímos nossa vida, fazendo as mesmas coisas que fazíamos antes, plantar e colher. Alugamos uma barraca na feira de Jitaúna e vendíamos.

A minha adolescência foi sacrificada pelo trabalho, apesar de ser considerada uma moça bonita, não tinha namorado e não tinha coragem de ter, pois tinha vergonha dos rapazes que apareciam pois tinham melhores condições que eu, principalmente porque eu era uma pobre feirante. Vivemos alguns anos neste e lugar e daí alugamos uma casa para fazer um pensão num lugar chamado Apuarema. Então nossa família ficou dividida. Minha mãe, minha irmã Olívia e Toinho ficavam em Apuarema. Toinho trabalhava como sapateiro. Eu, minha irmã Áurea e meu pai, continuamos morando na roça.

Nesta época recebi o recado da minha irmã mais velha, Ailda, que estava grávida e precisava da minha ajuda. Ela estava grávida de Maria Angelica. Minha irmã morreu e deixou os filhos comigo dizendo antes de morrer que vinha buscar as filhas. Por ironia do destino, a primeira morreu porque tomou uma lavagem que perfurou o intestino. A lavagem naquela época era feita com a tripa do porco. A história da segunda também foi muito triste. A menina teve a orelha furada e deu tétano. Eu já tinha 13 anos quando sai desesperada para levar ao hospital de Jequié. Estava na estrada esperando um ônibus, quando um caminhoneiro passou e me deu a carona até o hospital. Esse caminhoneiro no futuro veio a ser o marido de minha comadre Nice, que batizou Eliane. Chegando no hospital a menina faleceu. Voltei para casa de ônibus com o corpo da criança nos braços. Porém, uma senhora, por curiosidade quis ver a menina e saber o que tinha acontecido. Foi ai que se assustou dizendo para todos no ônibus que a menina estava morta. O motorista, então mandou eu saltar do ônibus. Fiquei horas e horas no meio da estrada com a criança morta em meus braços. Parece mentira, mas, era uma criança segurando outra criança morta. E quando de repente, o mesmo caminhoneiro que estava retornando, para Jitaúna me avistou de longe e me deu carona de volta. CONT/...










Nenhum comentário:

Postar um comentário

Um Pouco Sobre Minha História de

Um Pouco Sobre Minha História de

Vida

Nascida de família simples do interior da Bahia, em 03 de outubro de 1955, dia da eleição para Presidente da Republica, Juscelino Kubitschek, justamente, no momento em que minha mãe estava à caminho do posto eleitoral, sentiu a dor do porto e por isso não pode votar. Sendo a primogenita dos seis filhos da minha mãe e a quinta do meu pai, sempre sonhava acordada desde a infância. E, a partir desses sonhos juvenis é que as coisas foram acontecendo. Aos 12 anos de idade, dormia escutando um radinho de pilhas buscando a frequência de Londres para aprender inglês dormindo, pois a curiosidade de como vivam as pessoas em outros países era imensa. Aprendi inglês com o método "natural approach". Não frequentei cursinhos de inglês e por digitar muito, melhor dizer "datilografar" a gramática inglesa, aumentei a facilidade na escrita. Morei na Califórnia por 5 anos, e assim ampliei meus conhecimentos da língua inglesa e posteriormente é que cursei Letras Vernáculas, óbvio que com Inglês. A minha primeira viagem foi à Africa, precisamente em Lagos-Nigéria, onde permaneci longos meses, longos, porque foi numa época de guerrilhas (estado de sítio) destruição de correios, morte de Charles Chaplin, a qual que ocorreu justamente numa data inesquecível, no dia de Natal, quando me encontrava, numa casa de mulçumanos. Além de todos estes acontecimentos, não poderia deixar de mencionar também o show de Bob Marley, quando apresentava seu novo disco (vinil) "Kaya" para seus "irmãos de cor". Havia precariedade de linhas telefônicas, e o meu contato com a familia, praticamente não existia, sendo motivo de muita preocupação para meus pais. Além destes acontecimentos, o "FESTAC 77" (Festival da cultura negra internacional) tomou conta do continente africano, onde todas as nações negras do mundo se reuniram como uma espécie de "proclame" pela conquista de suas independencias.
Realmente não poderia de deixar de mencionar sobre essa experiência que muitos, até mesmo da minha familia, não conhecem detalhes. Para mim, foi de suma importância viver esta experiência, pois, como baiana, sinto o coração bater a força destes batuques, cuja história vem muito mais além dos preconceitos e disputas religiosas atuais. Personagens da música popular brasileira estiveram presentes como: Gilberto Gil, Caetano Veloso, dentre outros. Das apresentações, uma que se destacou para mim foi a de Bomba-Meu-Boi, por me fazer recordar a infância de um interior da Bahia, Jitaúna, onde o Bomba-Meu-Boi fazia parte da tradição folclórica. Sem sombra de dúvidas é um acervo histórico de muita importância para a nossa cultura. Casei-me pela primeira vez aos 18 anos, tenho duas filhas, dois netos e atualmente casada com italiano e vivemos entre a Itália e o Brasil. Trabalhei em diversas companhias e por último, em 1990, ingressei numa empresa multinacional na área de Recursos Humanos, permanecendo até minha aposentadoria em 2007. Por não exercer a minha profissão, propriamente dita " Professora", senti a necessidade de exercitar e compartilhar meus conhecimentos neste blog. Espero que agregue valor! Obrigada pela atenção!